Nos últimos dois anos, novos projetos musicais têm sido idealizados a fim de ampliar sua influência também para a comunidade.
Desde a década de 1990, a Escola de Música da Fadba desenvolve um trabalho de educação musical para alunos. Nos últimos dois anos, novos projetos musicais têm sido idealizados a fim de ampliar sua influência também para a comunidade. A Escola de Música é coordenada pelo maestro e pastor Pablo Sanches. Ela tem se preparado para a inclusão, entendendo o papel terapêutico, social e espiritual que a música pode cumprir.
Um dos projetos da Escola de Música está sendo dirigido, de forma particular, a uma senhora da comunidade portadora da doença de Alzheimer. O projeto surgiu há pouco mais de um ano através da professora de música Juliana Pinheiro Sanches e tem por objetivo usar a musicoterapia como auxílio no tratamento de doenças neurológicas. As aulas são individuais, mas o intuito é ampliá-las para que a mais pessoas possam ter acesso.
“Dona Nazaré é incrível. Quando a conheci descobri que ela cantava e era amante de música. Propus à família para começarmos a musicoterapia como tentativa de retardar os efeitos da doença além de contribuir para que ela tivesse mais qualidade de vida” , conta.
Nazaré Portella, tem 79 anos, descobriu a doença há três anos e desde então sua família busca alternativas para auxiliá-la. Enquanto jovem cantava na igreja e em corais. Recentemente participou de um vídeo em homenagem ao Dia dos Avós do Colégio Adventista da Bahia.
A MÚSICA E O ALZHEIMER
Segundo o Ministério da Saúde o Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva que se manifesta apresentando deterioração cognitiva e da memória de curto prazo e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais que se agravam ao longo do tempo.
“Sei que a musicoterapia não cura a doença, mas através da música o paciente responde a estímulos, sorri, falam, se sociabilizam, melhoram a postura, coordenação motora, o humor e a autoestima”, contribui.
Para o médico neurologista e professor universitário Felipe Oliveira, a doença de Alzheimer é caracteriza por um processo degenerativo, de morte de neurônios, em que não se sabe como interromper ou parar essa progressão. Afirma ainda que pacientes com Alzheimer apresentam melhora parcial, mas significativa quando também são tratados com musicoterapia.
“Áreas da linguagem, das emoções e memórias são ativadas pela música. Uma pessoa portadora da doença tende a perder algumas habilidades como por exemplo a linguagem. Estudos mostram que a musicoterapia ativa determinadas regiões cerebrais que promovem a redução ou degeneralização de determinadas áreas além de melhorar alguns sintomas”, completa.
A MUSICOTERAPIA
A aula acontece sempre da mesma forma, seguindo um repertório de oito músicas inéditas compostas junto a paciente. Desde a música de abertura “Bom dia!”, músicas sacras com base no Salmos 46 e ll Crônicas 7:14, assim como músicas para o momento do banho, do abraço e da despedida.
Tatiane Portella, filha de Nazaré, diz que tão logo as aulas começaram, foi possível observar uma evolução considerável. Sua mãe, de alguma maneira desconhecida a ela, conseguia fazer registros das músicas, tanto letra, ritmo ou melodia.
“Via que depois da aula, ela lembrava trechos da música e passados cinco dias eu ainda a ouvia cantarolando. Percebi que as respostas a rotina diária eram mais positivas depois das aulas. Coisas como tomar banho e comer eram feitas com mais vontade”, relata.
Segundo o neurologista Felipe Oliveira, isso se deve a três áreas principais que são ativadas quando se ouvi música. São áreas responsáveis pela memória. Uma delas é a amígdalas cerebral, responsável por sentimentos como medo e prazer. Sua região mais externa é ativada pela música. “A depender da melodia que ouvimos ficamos triste ou felizes, fazendo com que a gente rememore alguns momentos da vida”, completa.
Segundo Tatiane, a evolução de sua mãe ocorreu de forma gradativa. Era perceptível a melhora do vocabulário e o nível do discurso era mais ordenado.
“Vejo que a dinâmica da aula tem um efeito agora e posterior. Depois da musicoterapia ela tem mais disposição, inclusive para tomar atitudes como escolher a roupa que vai vestir. O repertório promove até noções de coordenação como (direita-esquerda). Ela consegue até resgatar músicas que cantava antigamente”, lembra.
O doutor Felipe Oliveira explica ainda que essas respostas se devem a uma outra região, fundamental para memória, que é o hipocampo (área mais afetada pela doença de Alzheimer). Ele também tem papel importante nas emoções. Ao se ouvir músicas tristes por exemplo, há uma inibição dessa região e o contrário, há melhora na sua atuação.
Além das duas áreas já mencionadas, existe ainda o núcleo accmbens, conhecido como centro da recompensa. Ele promove a sensação de prazer que faz com que haja sempre uma busca por aquilo que traz bem-estar. Ele direciona a atitude do indivíduo.
“A música de um modo geral tem um papel de estimulação da nossa conduta. Pode ser de forma passiva (ouvindo música sendo associadas as emoções e alterações comportamentais) ou ativa (dançando ou cantando). Essas ações também ativam outras regiões do cérebro simultaneamente ou sequencialmente. Áreas motoras como a coordenação por exemplo”, conclui.
A Escola de Música da Fadba oferece diversos cursos nas áreas de instrumentos musicais, técnica vocal, musicalização infantil, prática de orquestra, flauta doce e canto e coral. Ela tem difundido a arte musical no Recôncavo Baiano e contribuído na formação de líderes de música para congregações adventistas de todo o País.
Se deseja assistir ao vídeo em homenagem ao Dia dos Avós da Faculdade Adventista da Bahia com a dona Nazaré Portella e trilha sonora da música "Lembra-te" de autoria da Juliana Sanches clique no link: https://www.youtube.com/watch?v=RT_s-cDqisc
Por Suelane Carneiro
REFERÊNCIAS
Juliana Sanches é bacharel em música/piano pela Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG) e especialista em performance pianística pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Pablo Sanches é bacharel em música/piano (UFMG, especialista em regência coral (UFG), bacharel em teologia (SALT/Fadba), mestre em teologia (Faculdade EST).
Felipe Oliveira Costa é neurologista Clínico, possui mestrado em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa, é professor universitário do curso de Medicina e coordenador da Linha de Cuidados do AVC no Hospital do Subúrbio e pesquisador do Hospital do Subúrbio, com linha principal em doenças cerebrovasculares.